sexta-feira, 19 de outubro de 2012

DEBATENDO SOBRE CURRÍCULO ESCOLAR



As discussões em torno de uma educação de qualidade são muitas, visto que vivenciamos no dia-a-dia um processo de luta, dentro e fora das instituições escolares, a fim de conseguir o acesso ao até mesmo à permanência dos alunos na escola. Nesse sentido, que quando se fala a respeito da educação inclusiva pressupõe-se a transformação do ensino regular e da educação especial, reorganizando os serviços de atendimento educacionais especializados oferecidos aos alunos com deficiência à complementação da sua formação e não a substituição do ensino regular. Logo, verifica-se que o currículo deve ser usado como um recurso para promover esse desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos com necessidades especiais. Dessa forma, como podemos fazer adaptações no currículo para os portadores de necessidades especiais?

IMAGENS SOBRE CURRÍCULO ESCOLAR







Continuando nosso debate sobre currículo, posto um vídeo com a primeira parte de uma entrevista feita pela UNIVESP

Entrevista com Sônia Penin sobre currículo escolar no Brasil



UMA REFLEXÃO SOBRE CURRÍCULO



O currículo vem sendo conceituado de diversas formas, entendido em diferentes aspectos, enquanto nexo entre a sociedade e a escola, o sujeito e a cultura, o ensino e a aprendizagem.
Quanto a etimologia, curriculum é uma expressão latina significando pista ou circuito atlético – tinha ressonâncias similares com “ordem como seqüência” e “ordem como estrutura” (HAMILTON, 1992, p. 10). Gimeno Sacristán (2000) frisa que o termo vem da palavra latina currere, referindo-se à carreira, um percurso a ser atingido. Enquanto a escolaridade é um caminho/decurso, o currículo é considerado seu recheio, seu conteúdo e guia que levam ao progresso do sujeito pela escolaridade.
O tratamento do currículo, na contemporaneidade, pressupõe, segundo Gimeno Sacristán (2000), que se observe sua problemática a partir da reflexão sobre: que objetivo se pretende atingir, o que ensinar, por que ensinar, para quem são os objetivos, quem possui o melhor acesso às formas legítimas de conhecimento, que processos incidem e modificam as decisões até que se chegue à prática, como se transmite a cultura escolar, como os conteúdos podem ser inter-relacionados, com quais recursos/materiais metodológicos, como organizar os grupos de trabalho, o tempo e o espaço, como saber o sucesso ou não e as consequências sobre esse sucesso da avaliação dominante, e de que maneira é possível modificar a prática escolar relacionada aos temas.
Logo, Forquin (1993, p. 22) define currículo escolar como um percurso educacional, um conjunto contínuo de situações de aprendizagem (“learning experiences”) às quais um indivíduo vê-se exposto ao longo de um dado período, no contexto de uma instituição de educação formal. Por extensão, a noção designará menos um percurso efetivamente cumprido ou seguido por alguém do que um percurso prescrito para alguém, um programa ou um conjunto de programas de aprendizagem organizados em cursos.
Assim, o currículo é uma determinação da ação e da prática, assim como o são as valorizações sobre o que é cultura apropriada” (GIMENO SACRISTÁN, 1998, p. 48).
Basicamente, o currículo é uma lista de tudo aquilo que uma escola pretende ensinar. Pode também conter informações mais precisas sobre como e quando vai fazê-lo e também sobre os processos de avaliação das aprendizagens.
Dentro dessa concepção há três tipos de currículo escolar, o real, o oculto e o prescrito.
O currículo real é simplesmente aquele que se passa em sala de aula.
Quanto ao currículo prescrito, segundo Sacristán (1998), é um conjunto de decisões normativas que são produzidas nos gabinetes das secretarias federais, estaduais e municipais de educação. É um currículo totalmente distanciado do currículo real, pois não respeita a diversidade, e não é construído pelos que fazem a escola cotidianamente. O currículo prescrito atribuí à escola o papel de transmitir uma cultura com base na lógica da reprodução, um currículo igual para todo o território e para todos os alunos, construído para que o professor o execute da forma como veio estruturado.
Mesmo o currículo sendo prescrito, o professor através de sua interação deve construir, no dia-a-dia, novas alternativas curriculares para a sua prática docente.
Já o currículo oculto, segundo Forquin (1999, p. 23), designará estas coisas que se adquirem na escola (saberes, competências, representações, papéis, valores) sem jamais figurar nos programas oficiais ou explícitos, seja porque elas realçam uma “programação ideológica” tanto mais imperiosa quanto mais ela é oculta, seja porque elas escapam, ao contrário, a todo controle institucional e cristalizam-se como saberes práticos, receitas de “sobrevivência” ou valores de contestação florescendo nos interstícios ou zonas sóbrias do currículo oficial.
Enfim, o currículo nos dá uma visão de cultura apresentada na escola, um projeto ou processo historicamente e continuamente construído pela sociedade, ele expressa ideologias, ideias ao mesmo tempo em que é uma manifestação prática.

Referências

FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

GIMENO SACRISTÁN J. O currículo: os conteúdos do ensino ou uma análise prática. In:_______.; PÉREZ GÓMEZ, A. I. Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000. Cap. 6, p. 119-148.
_______. Aproximação ao conceito de currículo. In: _______. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: ArtMed, 1998. Cap. 1, p. 13-87.
_______. A cultura para os sujeitos ou os sujeitos para a cultura? O mapa mutante dos conteúdos na escolaridade. In: _______. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: ArtMed, 1999. Cap. 4, p. 147-206.
HAMILTON, David. Sobre as origens dos termos classe e curriculum. Teoria & Educação, n. 6, p. 33-51, 1992.